«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, março 16, 2014

Conflitos internos do ser humano

Emir Baigazin
O cineasta cazeque estreou-se com Uroki garmonii (Lições de harmonia), um filme de que aborda a velha questão da sobrevivência da espécie humana, que expõe a própria natureza do ser humano.

Procurou «filmar a violência sem cultivar a violência», referiu em entrevista à revista Actual (Expresso), de 8 de Março de 2014. No sentido de o espectador se «sentir livre quando o filme acaba».

Depois de dizer «não me quero subjugar a um tema» e  no «cinema odeio os temas», diz o essencial: «O que me interessa são os conflitos internos do ser humano para lá de qualquer espaço, geografia ou situação: a sua natureza de predador, a sua capacidade de amar. Ou de matar."

Aprecio este ângulo de abordagem da Arte, no que tem de universal, de humano, de real e, inclusive, de estudo sobre a natureza humana, incluindo os mencionados conflitos ou inquietações internas.

A violência, no referido filme, é sugerida, já que o cineasta defende que «expressar a violência ou contemplar a violência no cinema é um perigo tremendo. Um centímetro a mais, um exagero a mais, é o grotesco que nos bate à porta. Quando o grotesco entra, tudo está perdido. O filme está condenado. Não há salvação que lhe valha.»

Refere que o cinema «se expressa para além da moral e da política», o que torna a Arte universal e intemporal. «O bem e o mal são como o dia e a noite, estão sempre aqui, para todos nós. Resta-nos tentar evoluir perante aquele facto.» É esta a esperança: evolução da humanidade.

Lições de harmonia não é um filme sobre a escola ou a adolescência, embora se passe na escola e o protagonista seja um adolescente. «Quis filmar o sistema escolar como o reflexo de um modelo que prevalece na sociedade. Um sistema de violência que faz parte da natureza humana. O que me interessa não é a guerra que estala entre aqueles dois rapazes mas sim a guerra interior do protagonista.» Afirma ainda que, na «escola, desde cedo, o que nos ensinam? A ser predadores.»

Sobre a adolescência diz que é um «período da vida obsessivo e, por isso, violento. Acho que nesta idade de formação da personalidade impomo-nos obstáculos e metas, nem sempre os melhores, e, dizem os psicólogos, isto leva-nos frequentemente a um estado de insatisfação que pode gerar depressão. Insisti muito nisto, filmando a vida na escola, a necessidade de ter boas notas, de ser o primeiro.» Ser o primeiro é muito diferente de cada qual dar o seu melhor, independentemente se esse melhor dar significa ou não ser o melhor. É preciso realismo, para não gerar obsessões e insatisfações.

E sublinha que não há ironia na palavra «harmonia» do título. Bem pelo contrário, o título é para «ser levado à letra», embora se trate, como escreveu o crítico Francisco Ferreira, de uma história de violência implacável sob o signo do darwinismo social (selecção natural e permanente luta pela sobrevivência).

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